Depois de dois meses de angústia, preocupação e cuidados redobrados, finalmente sua "filhota" está para ter os bebês. E agora?
Eis um belo exemplo de instinto materno |
Normalmente o instinto materno é suficiente para que a cadela tenha seus filhotes sozinha; contudo, algumas mamães inexperientes podem ter dificuldades. Por isso é importante para o proprietário saber identificar os sinais de que há algo errado, para que possa procurar auxílio veterinário.
O acompanhamento médico é importante durante a gestação para identificar possíveis deficiências nutricionais da mãe ou anormalidades dos fetos. É interessante realizar exame ultrassonográfico para monitorar as condições dos bebês, sobretudo no terço final da gestação. Contudo, devemos lembrar que o ultrassom não é confiável na determinação do número de filhotes, pois pode haver sobreposição das imagens.
A gestação da cadela dura de 58 a 64 dias, enquanto a da gata pode se estender até os 70 dias. Nesse período, comece a medir a temperatura retal da gestante. No período pré-parto esta temperatura diminui para cerca de 37,6ºC.
Normalmente a fêmea fica nervosa, perde o apetite e pode ficar raspando o chão ou procurando locais protegidos, com o objetivo de formar um ninho. Para ajudá-la, procure o local mais tranqüilo da casa e prepare uma caixa grande, acolchoada com toalhas limpas.
O trabalho de parto propriamente dito começa com a dilatação do colo do útero e com o início das contrações uterinas.
Na cadela, dilatação completa do colo do útero demora em média 6 a 12 horas, mas pode demorar até 36 horas em mães nervosas ou que estejam em seu primeiro parto. Na gata, este processo pode ser rapido e durar apenas 1 hora, mas também pode durar 1-2 dias.
Em alguns casos, as contrações uterinas podem estar ausentes ou não ter força suficiente para expulsar os fetos. Isso pode ocorrer por deficiência de cálcio ou alguma desordem hormonal. Neste caso, o médico veterinário deve agir de acordo com o estado clínico do animal. É importante que este profissional tenha competência e conhecimento suficientes para evitar tanto o uso prematuro de medicações quanto a indicação desnecessária de uma cirurgia cesariana.
No início do parto é normal observarmos um corrimento vaginal, que pode ser translúcido a castanho, com ou sem sangue. Isto quer dizer que as placentas já estão se desprendendo e que a expulsão dos bebês, está para começar.
Na segunda fase já vemos nitidamente as contrações abdominais que acompanham cada contração uterina. A parturiente, na maioria das vezes, permanece em decúbito lateral. A presença de um veterinário nesta fase pode ser importante, sobretudo, em se tratando do primeiro parto da fêmea e se o macho que fez a cobertura for maior que ela. O vet neste caso deve avaliar se a fêmea tem abertura suficiente para dar passagem aos bebês.
A mamãe precisa de um ambiente o mais tranquilo possível. Evite ficar tumultuando o local com fotos e filmagens. Isso não ajuda em nada. Mantenha-se calmo. O seu stress facilmente se transmite à mamãe, e isso pode interromper um trabalho de parto normal.
Quando os filhotes começam a sair, vem a hora mais tensa para quem assiste ao parto. A cadela (ou gata) deve lamber vigorosamente cada neonato, rompendo as membranas que o envolvem e cortando o cordão umbilical com os dentes. Normalmente elas comem a placenta. Não se assuste.
Caso note que a fêmea não fez seu papel, intervenha. Ajude a libertar o bebê da placenta, segure-o com um pano limpo, limpe suas narinas e massageie-o vigorosamente. Isso serve para estimular a respiração nestes momentos iniciais fora do ambiente uterino. Se a mãe não romper o cordão umbilical, faça nele dois nós apertados a mais ou menos 2 centímetros da barriguinha e corte (com uma tesoura limpa e desinfetada) entre os nós. Se não tiver um fio apropriado para isso, use fio dental. Por fim, passe um pouco de povidine na extremidade pendente do cordão.
O tempo entre o nascimento entre os animais da ninhada é variável. Algumas fêmeas rapidamente expulsam todos os filhotes, outras demoram mais. Se o tempo entre as parições ultrapassar as 2,5 horas, é melhor buscar ajuda.
Não se esqueça de colocar os bebês para mamar logo após o nascimento. O colostro é de extrema importância para a sobrevivência da ninhada. Se algum filhote tem dificuldade na hora de mamar, ajude-o.
É muito prudente saber se todos os filhotes foram realmente expulsos. Como o útero fica aumentado no parto, a palpação nem sempre é precisa. Qualquer profissional competente sabe que o ideal é a realização de um raio-x para descartar a retenção fetal.
Quando procurar o veterinário?
- Se a cadela está prostrada e visivelmente doente;
-Se durante for notado algum corrimento antes do 58º dia de gestação;
-Se a gestação ultrapassa os 64 dias;
-Se a gestante teve diminuição de temperatura, está fazendo ninho e perdeu o apetite há mais de 48 horas e não mostra sinais de contrações;
-Se as contrações não se iniciarem nas 2-3 horas seguintes ao desprendimento das placentas (identificado pelo corrimento castanho-esverdeado);
-Se a fase das contrações ultrapassar 1 hora sem que haja nascimento;
-Se há contrações fracas e pouco frequentes durante mais de 4 horas, sem a expulsão de um cachorro;
-Se observar a exteriorização de alguma estrutura pela vagina por mais de 1 hora, sem que haja nascimento;
Quando recorrer à cirurgia?
A cesariana deve ser o último recurso. Não é preciso ser obstetra ou médico veterinário para saber que o parto normal é muito mais adequado e benéfico à mãe e aos filhotes do que uma cirurgia. Qualquer indivíduo de bom senso sabe disso.
Ao chegar à clínica, o veterinário avaliará o grau de dilatação vaginal, bem como a força e a freqüência das contrações. Se for possível, um exame ultrassonográfico deve ser feito para verificar o estado dos fetos. Em todo caso, podemos ter as seguintes situações:
-A utrassonografia ou o raio-x indicam que há fetos em posições anômalas: cirurgia imediata;
-Não há dilatação: cirurgia imediata;
-Há dilatação e contrações: aguarda-se o parto normal. Caso este não ocorra em 6 a 12 horas, pode-se recorrer à cirurgia;
-Há dilatação, mas as contrações são fracas ou ausentes: após avaliação criteriosa, aplica-se cálcio e/ou o hormônio adequado para estimular as contrações. Se estas não se tornarem mais evidentes em cerca de 40 a 60 minutos, faz-se uma nova aplicação. A quantidade de aplicações de hormônio vai depender do estado da cadela e da avaliação do veterinário. Eu, pessoalmente, não insisto: não havendo resposta após 3 aplicações, recomendo cesariana.
O Pós-Parto
Os cuidados não param após o parto. A expulsão dos anexos placentários deve ocorrer, para que estes não entrem em decomposição no interior do útero, o que pode causar uma grave infecção. Cabe ao médico veterinário prescrever medicamentos que auxiliem nesse processo.
Sabemos que durante o período de lactação a fêmea precisará de uma suplementação nutricional adequada, portanto, o ideal é dar-lhe ração própria para filhotes, devido ao teor mais alto em proteínas. Existem nutracêuticos de excelente qualidade próprios para esta fase da vida. Consulte seu veterinário.
Nos dias subseqüentes ao parto, o útero retorna às suas dimensões normais. Poder-se observar nesse período um corrimento vaginal que pode até ser sanguinolento. Se este não tiver mau odor ou presença de pus, está tudo bem. De qualquer forma, observe atentamente a mãe e seus filhotes. Caso note algum problema, procure o médico veterinário.
Fontes:
-Compêndio de reprodução animal. Lab. Intervet.
-Endocrinologia da gestação e parto em cadelas. da Veiga, G.A.L. ET AL. Revista Brasileira de Reprodução Animal, Belo Horizonte, v.33, n.1, p.3-10, jan./mar. 2009.
-Gestação e parto em cadelas: fisiologia, diagnóstico de gestação e tratamento das distocias. Luz, M.R. ET AL. Revista Brasileira de Reprodução Animal, Belo Horizonte, v.29, n.3/4, p.142-150, jul./dez. 2005
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