Muitas vezes no dia a dia da clínica veterinária, nos deparamos com proprietários surpresos e desesperados ao saber que seu bichinho de estimação possui alguma patologia relacionada ao envelhecimento. Canso de ouvir perguntas do tipo “doutor, mas gato também tem diabetes?” ou “como é que pode? Um cachorro com artrite?”.
Geralmente quem adquire um animal de estimação nunca pensa que um dia ele vai envelhecer e passar pelas dificuldades que vem com o avançar da idade.
A verdade é que a maioria das pessoas não está preparada para lidar com a velhice de seus companheiros de quatro patas.
O processo de envelhecimento se dá de formas diferentes dependendo do tipo racial. Em geral, as raças pequenas vivem mais que as grandes; contudo, a idade também está intimamente relacionada aos cuidados que o animal recebe durante a vida. Uma boa alimentação e exercícios regulares aumentam bastante a expectativa de vida de qualquer indivíduo.
Como encarar a velhice é uma questão que pode variar conforme o profissional. Vou aqui nesta postagem dar a minha opinião.
Você, caro internauta, saberia dizer aproximadamente com qual idade deve ser feita a primeira consulta geriátrica do seu cão? Creio que muitos acharão minha resposta um tanto radical, mas penso que a primeira consulta pediátrica deve ser também a primeira consulta geriátrica do seu animal. Em outras palavras, devemos olhar para o filhote já pensando no idoso que ele será um dia.
Justifico minha posição lembrando que o envelhecimento é um processo que se vai estabelecendo à medida que o tempo passa. O gato com um ano já não é mais um gatinho com três meses; apesar de ser jovem ele já está mais velho. Devemos sempre tratar o envelhecimento e não o idoso. Se deixarmos para tratar o avanço da idade depois dos 10 anos, teremos perdido um tempo precioso e isso pode se refletir em menos tempo de convívio com nossos animais.
Muitas coisas que podem parecer inofensivas revelam-se danosas em longo prazo, por exemplo, hábitos comuns como beber água de piscina e usar comedouros de alumínio podem, depois de anos, levar ao acúmulo de metais pesados que, por sua vez, provocam dano celular e aceleração do envelhecimento.
Assim como na medicina humana, na veterinária a chave para a longevidade está na boa nutrição e nos exercícios físicos moderados. A alimentação do animal deve mudar a cada estágio de vida, pois os requisitos energéticos e nutricionais mudam de acordo com a idade do indivíduo. Por exemplo, cães adultos que comem ração para filhotes podem desenvolver patologias devido ao excesso de proteínas que consomem.
Os exercícios devem ser sempre moderados, evite exageros. Já atendi um cão que nunca saía de casa e num belo dia seu dono resolveu correr 10 km com ele. Resultado: lesão articular nos joelhos e no quadril. Outro paciente que atendi, um pequeno chiuhahua, corria 20 km todos os dias; uma sobrecarga enorme para um animal tão delicado.
Se você nunca sai de casa com seu cão, o melhor a fazer é começar com caminhadas curtas e com uma frequência certa. Não se pode forçar um animal sedentário a uma atividade intensa sem treinamento. Isso pode matá-lo.
Quanto aos felinos, 10 a 15 minutos de brincadeiras diárias são um ótimo exercício. Sempre recomendo aos proprietários, passar alguns minutos do dia brincando de jogar bolinha com seu gato. Faz bem para ambos.
Alguns raros gatos não apresentam sintomas de senilidade antes dos 15 anos de idade; no entanto, mudanças senis podem ser observadas já aos 9 ou 10 anos. Diferentemente do cão, o gato idoso não apresenta normalmente, diminuição da visão e surdez, mas ocorre perda de faro e do paladar. O desgaste desses sentidos leva à uma certa falta de interesse pelo alimento; sendo assim, o gato idoso precisa ser alimentado com mais frequência, porém, em pequenas porções para evitar a obesidade.
A ingestão de água é importante para o gato em qualquer idade, mas no idoso isso se torna crucial para a boa saúde. Gatos geralmente gostam de água corrente, então instale uma pequena fonte decorativa no jardim (é bom para seu bichano, que bebe água, e é bom para sua casa, que fica mais bonita!). Outra estratégia para fazer o gato se hidratar é dar-lhe sopinhas de carne bem diluídas em água ou adicionar um cubo de gelo ao bebedouro; alguns gatos adoram uma água mais fria.
Ao atingir a terceira idade, o seu pet precisará de cuidados especiais, pois ficará mais vulnerável às variações de temperatura e não deve ser exposto ao calor ou ao frio. A sensibilidade também se torna mais evidente e o animal fica estressado ou deprimido com mais facilidade. Comumente o pêlo vai ficando esbranquiçado (especialmente no focinho), e podem surgir manchas na pele, que, por sua vez, fica mais frágil. Além disso, o próprio sistema imunológico perde eficiência, deixando o animal mais suscetível a doenças.
Existem alguns problemas de saúde comuns em cães de idade avançada como a artrite e perda da visão, da audição e do olfato. Nesta fase pode haver alterações comportamentais decorrentes do que chamamos “Disfunção Cognitiva Senil”, algo como o Mal de Alzheimer, que acomete seres humanos.
O “Alzheimer canino” não é raro e pode trazer alterações como agressividade, depressão e alteração dos comportamentos sociais do animal, ou seja, ele perde seus hábitos de higiene, engole corpos estranhos, não responde aos comandos, sofre perturbações durante o sono e uiva sem motivo. Às vezes, o cão fica parado, olhando ou latindo para o nada, como se visse fantasmas. O tratamento existe e é baseado no uso de medicamentos e muito carinho por parte dos proprietários.
É comum encontrar no animal idoso algum grau de insuficiência cardíaca, hepática ou renal. Podem ocorrer também doenças ligadas ao sistema digestivo; por isso, é tão importante tomar cuidado com a alimentação correta. O tártaro dentário deve ser evitado e, se já estiver instalado, deve ser removido, pois dificuldades de oclusão e infecções gengivais podem ter complicações que vão muito além da cavidade oral.
Alguns outros problemas, comuns em qualquer idade, tornam-se mais frequentes no cão e gato idoso. São exemplos, as dermatites, distúrbios hormonais e tumores. As hérnias de disco, a artrose e a espondilose (bico de papagaio) também são comuns em nossos amigos da terceira idade. Estes são problemas sérios, que podem causar disfunções drásticas na mobilidade do animal, muitas vezes, deixando-o paralítico. O tratamento é oneroso e pode envolver medicações, ACUPUNTURA, cirurgia e manejo nutricional.
PROGRAMA DE SAÚDE GERIÁTRICO
A partir dos sete ou oito anos sempre recomendo uma bateria de exames anuais. Os exames de rotina possibilitam o diagnóstico precoce de doenças, o estabelecimento de medidas preventivas e o acompanhamento clínico das alterações. Pouquíssimos proprietários levam seus cães para realizarem exames de rotina, Normalmente só se vai ao veterinário quando o paciente já está muito mal, sob risco de morte.
Hemograma, glicemia e bioquímica sérica são importantes para avaliar as condições gerais e as funções hepática e renal. Raio-x de coluna a cada dois anos, sobretudo, nas raças como dachshund e basset, os famosos “salsichinhas”, que são naturalmente predispostas a alterações nessa estrutura. A partir dos 8 anos, é interessante também realizar eletrocardiograma para evitar os sustos da doença cardíaca.
Após os 10 anos a periodicidade recomendada para os exames é semestral nos animais idosos saudáveis e várias vezes ao ano naqueles com algum distúrbio que necessite de acompanhamento constante.
Bom, acho que é isso. Em caso de dúvidas, não deixe para amanhã. Consulte seu médico veterinário.
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